ESMAVC Radio Station – Bloody Sam - Os Filmes de Sam Peckinpah: Estudar a Violência para Perceber a Mente Humana / Bloody Sam - Sam Peckinpah’s Films: To Study Violence to Understand the Human Mind
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ESMAVC Radio Station – Bloody Sam - Os Filmes de Sam Peckinpah: Estudar a Violência para Perceber a Mente Humana / Bloody Sam - Sam Peckinpah’s Films: To Study Violence to Understand the Human Mind
- Publication date
- 2017
Programa Radiofónico de Ana Catarina Velez
A Radio Broadcasting by Ana Catarina Velez
Maria Amália Vaz de Carvalho High School
Oficina de Multimédia
Class of Multimedia
Prof. João Soares Santos
O projecto ESMAVC Radio Station consiste na criação de conteúdos áudio digitais que poderão ser escutados através da internet ou transmitidos por outros meios de comunicação. Esses conteúdos são temáticos, congregam textos, locução, sequências musicais, ruídos, efeitos sonoros e silêncio, devidamente organizados consoante a intenção dos alunos. Este material é elaborado na disciplina de Oficina de Multimédia e pode ter qualidades mais experimentalistas e ensaísticas ou atributos mais convencionais. Serão tratados temas da História e Estética da Música, do Cinema, da Literatura, das Artes de Cena ou Plásticas bem como outros assuntos relevantes de outras áreas do conhecimento que os alunos decidam explorar.
Em paralelo realizar-se-ão anúncios publicitários referindo-se a produtos ou serviços absurdos nos quais a montagem sonora final terá um teor cómico, poético ou crítico.
ESMAVC Radio Station goal is the creation of digital audio content that can be heard over the internet or transmitted by other media. These contents are themed, congregate text, locution, musical sequences, noise, sound effects and silence, organized according to the students' motivation. This material is prepared in the class of Multimedia and will have a more experimental and essayistic orientation or a more conventional approach. Themes cover History and Aesthetics of Music, Cinema, Literature, the Performing Arts, Painting, Sculpture, Architecture, as well as alternative issues relevant to other areas of knowledge that students decide to explore.
In parallel the class must create advertisements referring to absurd products or services where the final editing must have a humorous, poetic or critical feature.
A Radio Broadcasting by Ana Catarina Velez
Maria Amália Vaz de Carvalho High School
Oficina de Multimédia
Class of Multimedia
Prof. João Soares Santos
O projecto ESMAVC Radio Station consiste na criação de conteúdos áudio digitais que poderão ser escutados através da internet ou transmitidos por outros meios de comunicação. Esses conteúdos são temáticos, congregam textos, locução, sequências musicais, ruídos, efeitos sonoros e silêncio, devidamente organizados consoante a intenção dos alunos. Este material é elaborado na disciplina de Oficina de Multimédia e pode ter qualidades mais experimentalistas e ensaísticas ou atributos mais convencionais. Serão tratados temas da História e Estética da Música, do Cinema, da Literatura, das Artes de Cena ou Plásticas bem como outros assuntos relevantes de outras áreas do conhecimento que os alunos decidam explorar.
Em paralelo realizar-se-ão anúncios publicitários referindo-se a produtos ou serviços absurdos nos quais a montagem sonora final terá um teor cómico, poético ou crítico.
ESMAVC Radio Station goal is the creation of digital audio content that can be heard over the internet or transmitted by other media. These contents are themed, congregate text, locution, musical sequences, noise, sound effects and silence, organized according to the students' motivation. This material is prepared in the class of Multimedia and will have a more experimental and essayistic orientation or a more conventional approach. Themes cover History and Aesthetics of Music, Cinema, Literature, the Performing Arts, Painting, Sculpture, Architecture, as well as alternative issues relevant to other areas of knowledge that students decide to explore.
In parallel the class must create advertisements referring to absurd products or services where the final editing must have a humorous, poetic or critical feature.
- Addeddate
- 2017-12-22 11:36:44
- Identifier
- SamPeckinpahAnaCatarinaVelezEQ
- Scanner
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December 22, 2017
Subject: Bloody Sam- Os Filmes de Sam Peckinpah: Estudar a Violência para Perceber a Mente Humana
Sam Peckinpah foi um cineasta polémico conhecido pela sua descrição explícita e inovadora da violência, particularmente por a apresentar em cenas registadas em «camara lenta».
Nos seus filmes há constantemente um antagonismo entre os ideais e os valores individuais e a realidade decepcionante em que as personagens se encontram. A sua reputação de ser uma pessoa conflituosa alargava-se para os bastidores das filmagens, com episódios de impetuosidade verbal e física com actores, produtores e técnicos.
Nasceu em Fevereiro de 1925 na cidade de Fresno, na Califórnia, de uma família originária das ilhas Frísias na Europa. Morreu com 59 anos, no hospital devido a um ataque cardíaco, sofrido quando estava de férias com a família a 28 de Dezembro de 1984 em Inglewood, na Califórnia.
A sua infância foi passada em Fresno, na Califórnia, no rancho Denver Church do seu avô. Durante a década de 1930 e de 1940, passou a maior parte do seu tempo a faltar às aulas para se dedicar com o seu irmão a actividades de cowboy. Nessa altura, a área de Coarsegold e Bass Lake ainda era habitada por descendentes de mineiros e de cowboys do século XIX e muitos deles trabalhavam no rancho. É provável que a sua experiência na infância com esta população e esta zona rural em transformação o tenha influenciado nos Westerns que posteriormente realizou. Na escola tinha problemas disciplinares e os pais decidiram transferi-lo para a San Rafael Military Academy.
Em 1943, Peckinpah, alistou-se no Corpo de Fuzileiros dos Estados Unidos da América e, dois anos depois, partiu com o batalhão para China com a missão de desarmar e repatriar os soldados Japoneses que combateram na Segunda Guerra Mundial. Apesar de o seu trabalho não incluir combate, terá testemunhado actos de guerra e tortura entre os soldados Chineses e Japoneses. Durante as suas semanas finais nos Fuzileiros, em Beijing, quis abandonar o serviço militar para puder casar com uma mulher autóctone, mas o seu pedido foi recusado. As experiencias na China, nas quais se incluem ter sido atingido por um tiro, terão afectado e influenciado o modo como tratou a violência nos seus filmes.
Após a sua estadia na China, foi estudar História na California State University em Fresno. Nessa altura, Peckinpah conheceu em 1947 Marie Selland, a qual viria a ser a sua primeira mulher. Esta apresentou-o aos membros do departamento de teatro e ele pela primeira vez ficou interessado em encenar. No seu último ano de universidade, teve a oportunidade de dirigir e adaptar uma versão de uma hora da peça «The Glass Menagerie» de Tennessee Williams. Quando concluiu a sua graduação na California State University, foi, em 1948, estudar teatro na University of Southern California, na qual passou duas temporadas como director residente no Huntington Park Civic Theatre, perto de Los Angeles.
Em 1954, Peckinpah começou a trabalhar como treinador de dicção e diálogos e assistente de realização do filme «Riot in Cell Block 11», dirigido por Don Siegel. Colaborou com Siegel em mais quatro filmes: «Private Hell 36» de 1954, «An Annapolis Story» de 1955, «Invasion of the Body Snatchers» de 1956, no qual também apareceu num pequeno papel como actor e «Crime in the Streets» de 1956. O trabalho com Donald Siegel estabeleceu as condições para se tornar um argumentista emergente e um potencial realizador.
Durante a sua vida Peckinpah foi um alcoólico e, a certa altura, viciado no consumo de drogas. Terá tido também, segundo algumas fontes, distúrbios psíquicos, de diagnóstico pouco claro. O seu problema com a bebida começou quando ele ainda estava a prestar serviço militar na China. Após se ter divorciado em 1960 da sua primeira mulher, de quem teve um filho, em 1965 voltou a casar mas com uma actriz Mexicana chamada Begoña Palacios com quem teve uma filha. O seu segundo casamento foi tempestuoso. Peckinpah oscilava mentalmente entre períodos calmos e agitados nos últimos dos quais com agressões. Fascinado pelas armas de fogo, quando abusava do álcool em estado de delírio disparava contras os espelhos que tinha em casa. Nalguns filmes seus aparecem imagens de espelhos a ser quebrados. Ele e Begoña Palacios separaram-se e voltaram a reunir-se três vezes ao longo da vida tendo nascido da relação uma filha. Em 1971 Peckinpah casou-se com Joie Gould mas, no ano seguinte, 1972, voltou para Begoña Palacios, com quem ficou até morrer. Peckinpah passou grande parte da sua vida no México, principalmente depois de casar com Palacios, isto porque, para além de ela ser Mexicana, Peckinpah, ficou fascinado pelo estilo de vida e pela cultura deste país, realizando neste território quatro dos seus filmes: «Major Dundee» em 1965, «The Wild Bunch» em 1969, «Pat Garrett and Billy the Kid» em 1973 e «Bring Me the Head of Alfredo Garcia» em 1974. Apesar do seu temperamento explosivo, Peckinpah criou um grupo fiel de amigos e de colaboradores. Alguns actores como Warren Oates, L. Q. Jones, R. G. Armstrong, Ernest Borgnine, James Coburn, Ben Johnson ou Kris Kristofferson e colaboradores como Jerry Fielding, Lucien Ballard, Gordon Dawson e Martin Baum estão presentes nalguns dos seus filmes.
Os contrastes da sua personalidade polarizavam entre um comportamento simpático, artístico ou delicado a extremos de violência, capazes de o magoar e quem estava consigo.
Sam Peckinpah começou a sua carreira nos últimos anos de 1950, escrevendo argumentos e realizando episódios de séries de Western na televisão por recomendação de Don Siegel. Entre elas estavam episódios de «Gunsmoke», «Have Gun-Will Travel», «The Rifleman», «Broken Arrow» e «Klondike». Escreveu um episódio intitulado «The Town» para a série da CBS «Trackdown». O romance «The Authentic Death of Hendry Jones» foi por si adaptado originando em 1961 o filme «One-Eyed Jacks», realizado por Marlon Brando. Oficialmente, a primeira realização de Peckinpah foi um episódio de «Broken Arrow» em 1958 e, em 1960, vários episódios de «Klondike» e quatro de «The Rifleman». Durante este período, Peckinpah escreveu para uma outra serie de televisão, «The Westerner». Aceitou ser o produtor da série e dirigiu cinco dos episódios. Embora as críticas fossem boas, a série apenas durou 13 episódios, sendo suspensa a sua emissão devido à dureza dos conteúdos. Apesar de ter sido cancelada, Sam Peckinpah e a série recebeu nomeações para o prémio Producers Guild of America for Best Filmed series.
Brian Keith, o protagonista de «The Westerner», sugeriu Peckinpah como realizador do filme «The Deadly Companions». O produtor Charles B. Fitzsimons aceitou. De baixo orçamento, o filme, rodado no Arizona, foi um processo de aprendizagem para Peckinpah, pois estava incapacitado pelo produtor de alterar o guião ou fazer montagem. Peckinpah, jurou nunca mais dirigir um filme em que não tivesse o controlo do argumento. Este é o seu filme menos conhecido.
«Ride the High Country», de 1962, foi o segundo filme de Sam Peckinpah baseado no argumento para cinema «Guns in the Afternoon» de N. B. Stone, Jr. Peckinpah e William S. Roberts reescreveram o guião, nele se incluindo referências à infância do realizador no rancho de Denver Church e ainda a uma das cidades desse período, com o nome de Coarsegold. Inspirou-se para uma das personagens no seu próprio pai, David Peckinpah. A história é sobre dois amigos Gil Westrum (o actor Randolph Scott) e Steve Judd (o actor Joel McCrea) que são contratados para transportar ouro de uma comunidade mineira através de território perigoso. Um deles tenta convencer o outro a ficarem com o ouro.
Este filme foi um enorme sucesso na Europa, recebendo críticas muito elogiosas. Para alguns, este foi um dos melhores trabalhos de Peckinpah.
«Major Dundee», de 1965, foi a primeira de várias más experiências com os estúdios que financiavam os filmes. Peckinpah foi escolhido para realizador, quando Charlton Heston, o protagonista, após ver em privado «Ride the High Country» com o produtor, lhe deu a sua aprovação. O filme conta a história de um oficial da cavalaria da União, o Major Dundee, comandante de um posto de prisioneiros confederados no Novo México. Um chefe Apache ataca e destroça uma companhia militar e rapta várias crianças. Para as resgatar, Dundee organiza um exército improvisado que incluía um ladrão de cavalos, veteranos confederados e um pequeno grupo de soldados negros que tinham sido libertados da escravatura. Dundee fica obcecado com a sua missão e avança pelo México profundo com os seus soldados exaustos e sem preparação militar. Para Peckinpah, este foi o seu primeiro filme com um grande orçamento e com um elenco de grandes estrelas, possibilitando a escolha de várias localizações remotas no México para filmar. Porém, os gastos subiram e ultrapassaram o orçamentado. Intimidado com grandiosidade do projecto, Peckinpah, após cada dia de filmagens embebedava-se. Despediu pelo menos quinze membros da sua equipa. A relação com os actores e a equipa técnica atingiu um ponto de ruptura até Heston ameaçar atingir Peckinpah com um sabre se ele não mostrasse mais respeito pelas pessoas presentes. Quinze dias depois, as filmagens terminaram com mais um milhão e meio de dólares gastos acima do previsto. Heston ainda deu o seu salário para manter o projecto mas a instabilidade de Peckinpah obrigou a cancelar toda a produção. Sem estar concluído e sem respeitar a vontade de Peckinpah, «Major Dundee» foi levado pelo produtor e montado em várias versões. Foi um fracasso de bilheteira e um fracasso como filme. Durante toda a sua vida Peckinpah sustentou que, na sua versão, este era um dos seus melhores filmes. No entanto, com estes incidentes, a sua reputação foi abalada.
O seu próximo trabalho seria o filme «The Cincinnati Kid», sobre um jovem prodígio com o vício do jogo e que derrotou um velho mestre durante um jogo de póquer. Antes de começarem as rodagens, o produtor recebeu inúmeras chamadas a falarem sobre o que aconteceu durante as gravações de «Major Dundee». Após quatro dias de filmagens, o produtor não gostou do seu trabalho e despediu-o.
Em 1966, Daniel Melnick, produtor e admirador de «The Westerner» e de «Ride the High Country», estava a precisar de um realizador e argumentista para adaptar o romance «Noon Wine» de Katherine Anne Porter para a televisão. Soube que Peckinpah tinha acabado de ser injustamente despedido do filme «The Cincinnati Kid». Apesar de alguns avisos das personalidades da indústria, decidiu contratá-lo e dar-lhe liberdade. «Noon Wine» é uma tragédia acerca de um agricultor que comete um homicídio fútil. Este filme fez com que Sam Peckinpah fosse nomeado pela Writers Guild for Best Television Adaptation e pela The Directors Guild of America for Best Television Direction. O filme é considerado um dos trabalhos mais intimistas de Peckinpah e revela o seu potencial dramático e profundidade artística.
Tendo com fundo a vontade de voltar a fazer filmes, a violência vista no filme «Bonnie and Clyde», realizado por Arthur Penn, em 1967 e a frustração da América com a Guerra do Vietname, Peckinpah ganhou inspiração para reescrever com Walon Green um argumento que se tornaria no aclamado filme «The Wild Bunch». Monumento épico, este filme fez escola especialmente pela sua montagem e pelo modo como a violência é filmada, por vezes em slow motion, narrando a deriva de uma quadrilha de bandidos experientes após um sangrento assalto falhado. Estes tentam sobreviver de acordo com o seu modo de vida independente e errático num mundo em transformação, no qual já não há lugar para eles. Pike Bishop (o actor William Holden), o chefe desses homens é perseguido pelo seu melhor amigo e antigo membro do grupo, Deke Thornton (o actor Robert Ryan), agora do lado da lei. Em fuga, o bando de Bishop chega ao México durante a Guerra Civil e encontra o corrupto e brutal general Mapache (o actor Emilio Fernández) do exército federal a quem inicialmente decidem oferecer os seus serviços.
O American Film Institute colocou esta obra no lugar 80 entre os cem melhores filmes Americanos e a revista Britânica Empire no lugar 94 dos 500 melhores filmes de sempre. Considerado um filme controverso por causa das suas imagens arrebatadoras de violência e da forma cruel e pouco escrupulosa como as personagens tentam sobreviver, foi um enorme sucesso assim que estreou em 1969. Considerado por muitos como excessivo ou até sádico é, também para muitos, uma obra-prima. Com este inovador filme recebeu a sua única nomeação para o Academy Award for the Best Original Screenplay.
«The Ballad of Cable Hogue», de 1970, foi o filme que Peckinpah fez a seguir a «The Wild Bunch». Contrariando as expectativas, é um filme divertido e sem a estatura épica da obra anterior. Peckinpah utilizou praticamente os mesmos actores e membros de equipa de «The Wild Bunch». O filme relata três anos da vida de um homem, um prospector sem sorte, que decide viver no deserto e nele estabelecer um posto na rota da diligência a que chama Cable Springs, após ter descoberto água naquele lugar, quando foi abandonado pelos companheiros para uma morte certa. O tempo de filmagens ultrapassou por 19 dias o que estava planeado e superou em 3 milhões de dólares o orçamento previsto. Para Peckinpah, este é um dos seus filmes favoritos.
Em «Straw Dogs», de 1971, Peckinpah teve de viajar até Inglaterra para poder dirigir um dos seus trabalhos mais obscuros e psicologicamente perturbadores. Foi produzido por Daniel Melnick, que trabalhou anteriormente com ele em «Noon Wine» e baseado no livro «The Siege of Trencher’s Farm» de Gordon Williams. O argumento de Packinpah recebeu inspiração de duas outras obras «African Genesis» e «The Territorial Imperative» de Robert Ardrey, os quais sustentam, em síntese, que o homem é um ser essencialmente carnívoro que instintivamente combate pelo controlo do território. O filme versa sobre David Sumnerum (o actor Dustin Hoffman), um tímido matemático americano que deixa o caos dos protestos universitários contra a guerra para ir viver com a sua jovem esposa Amy (a actriz Susan George) na aldeia onde ela nasceu, na Cornualha. Nessa aldeia, o ex-namorado de Amy não se conformou com a escolha que ela fez. Ele e os seus companheiros não simpatizam com a presença do estrangeiro. Surgem tensões, e estas intensificam-se até uma explosão conflitual. O matemático é forçado a defender a sua própria casa. A trama culmina num massacre.
As críticas a esta película extremaram-se novamente. Para uns era um filme belo que expunha a selvajaria humana, para outros era misógino e celebrava de um modo fascista a violência. A cena que mais reprovação teve foi aquela em que Amy é violada por dois dos habitantes locais. Peckinpah tentou associá-la aos seus próprios medos enraizados nos casamentos falhados. Muitas opiniões identificam essa cena com uma fantasia machista e chauvinista que inferiorizava a mulher. Outras sustentavam que este era um dos seus melhores filmes.
Foi também em Inglaterra que Peckinpah conheceu Josie Gould e casou com ela, mas pouco tempo depois divorciaram-se devido às suas frequentes mudanças de humor e acessos de agressividade.
Depois de concluir «Straw Dogs», regressou aos Estados Unidos para começar outro filme intitulado «Junior Bonner». Com a fama de ser um realizador de filmes violentos, Peckinpah aceitou o projecto por se situar entre «Noon Wine» e «The Ballad of Cable Hogue». O filme conta uma semana na vida do cavaleiro de rodeo Junior “JR” Bonner (o actor Steve McQueen), que regressa à sua cidade natal para entrar numa competição anual de rodeo. Filmado no Arizona, Peckinpah referiu que fez um filme «em que ninguém foi alvejado nem ninguém o foi ver».
Foi Steve McQueen que, ansiando voltar a trabalhar com Peckinpah, lhe apresentou um argumento de Walter Hill «The Getaway», baseado no romance de Jim Thompson. Peckinpah tinha o objectivo de fazer deste filme um thriller de qualidade, para aumentar a sua cotação no mercado. Um assaltante condenado conhece um homem de negócios corrupto que o ajuda a sair da prisão. Mais tarde ambos assaltam um banco. Este filme cheio de explosões, tiroteios e perseguições de carros, foi o maior sucesso financeiro de Peckinpah até então.
«Pat Garrett and Billy the Kid» é baseado num argumento de Rudolph Wurlitzer, autor de «Two-Lane Blacktop», realizado por Monte Hellman em 1971 que Peckinpah viu e admirou. O realizador achou que com este filme poderia afirmar a sua marca no género Western. Peckinpah reescreveu o argumento e conseguiu explorar temas que lhe interessavam. O filme, rodado no México, teve diversos contratempos, como uma epidemia de tuberculose, câmaras avariadas ou a funcionar mal e os recorrentes problemas de álcool de Peckinpah. Este foi um dos projectos com mais embaraços da sua carreira, com gastos de 1 milhão e 600 mil dólares acima do previsto. Foi considerado um filme incoerente e, por iniciativa de James Aubrey presidente da Metro-Goldwyn-Mayer, a sua duração foi reduzida de 124 para 106 minutos, contrariando a vontade de Peckinpah. Mais tarde o filme foi lançado na íntegra e foi reavaliado, com muitos críticos a considerá-lo um clássico moderno e um dos grandes filmes deste realizador. Pat Garrett (o actor James Coburn), que havia sido companheiro do bandido Billy the Kid (o actor Kris Kristofferson), passou para o outro lado da lei e é agora xerife do condado de Lincoln. Defende os interesses do Governador Lew Wallace (o actor Jason Robards) e dos ganadeiros do território em que o seu antigo companheiro continua a agir de um modo criminoso. Neste filme Bob Dylan aparece num papel secundário e é o autor da banda sonora. O filme foi um desastre financeiro.
Segundo Peckinpah, o filme «Bring Me The Head of Alfredo Garcia», de 1974 foi o único que se estreou exactamente como ele pretendia. Foi escrito pelo próprio mas a partir de uma ideia de Frank Kowalski, seu assistente, juntamente com Walter Kelley e Gordon Dawson. El Jefe (o actor Emilio Fernández) descobre que a sua filha adolescente ficou grávida de um estranho. Sob tortura ela confessa a identidade do pai. El Jefe oferece 1 milhão de dólares para quem lhe trouxer a cabeça de Alfredo Garcia. Quase como uma cópia do próprio Peckinpah, a personagem principal, Bennie (o actor Warren Oates), conhecia Alfredo Garcia e procura o seu paradeiro para receber o dinheiro. Considerado um drama macabro, com comédia, acção e tragédia, grande parte das críticas são negativas. Para além de ter sido um fracasso de bilheteira, até foi incluído na lista do livro «The Fifty Worst Films of All Time (And How They Got That Way)» de Harry Medved e Randy Dreyfuss. Mas recentemente a reputação do filme tem vindo a aumentar, tornando-se um filme reverenciado por muitos cinéfilos.
Após sucessivos desaires nas receitas da maior parte dos seus filmes, Peckinpah precisava de atingir novamente o êxito de bilheteira do seu filme «The Getaway». Apostou em «The Killer Elite», um filme de acção e espionagem com James Caan e Robert Duvall como agentes rivais, filmado em São Francisco. Mas, durante a rodagem, Peckinpah começou a consumir cocaína, graças a James Caan, causando-lhe distúrbios e pouca concentração no projecto que tinha em mãos. Os produtores não lhe deixaram reescrever o guião. Frustrado, Peckinpah começou a consumir mais e a passar mais tempo no seu reboque, permitindo que os seus assistentes dirigissem muitas cenas. A certa altura Sam Peckinpah teve uma overdose de cocaína e acabou no hospital, onde recebeu o seu segundo pacemaker. Felizmente o filme foi concluído e teve um moderado sucesso de bilheteira, mas tem sido considerada a sua obra mais fraca, um testemunho de decadência de um grande realizador
Foi nesse mesmo ano que lhe ofereceram projectos como «King Kong» e «Superman». Recusou-os, preferindo fazer um filme passado na Segunda Guerra Mundial intitulado «Cross of Iron», estreado em 1977, com James Coburn, Maximilian Schell, James Mason e David Warner. Adaptado de um romance sobre soldados alemães, reescrito por Peckinpah, o orçamento do filme era baixo e a os fundos disponíveis foram rapidamente ultrapassados. O álcool e a cocaína tornaram a realização confusa e errática. Sem dinheiro, a conclusão do filme teve de ser improvisada num só dia. O filme, memorável pelas viscerais cenas de combate e por mostrar o absurdo da guerra, foi um grande sucesso na Europa e é, para muitos uma obra-prima esquecida do cinema de guerra.
«Convoy» foi o seu penúltimo filme, baseado numa música com o mesmo nome de C. W. McCall. Apesar do consumo constante de cocaína e de álcool, Peckinpah conseguiu fazer deste filme o seu maior sucesso de bilheteira. Como não podia deixar de ser, durante a sua realização houve problemas, em particular com a sua saúde. Filmado no Novo México, com Kris Kristofferson, Ali MacGraw, Ernest Borgnine, Franklyn Ajaye e Burt Young, o enredo centra-se numa perseguição entre polícias e um camionista. As opiniões críticas foram divergentes. Umas arrasaram o filme, outras elogiaram-no.
Peckinpah aceitou realizar «The Osterman Weekend» de 1983, mas rapidamente começou a odiar o argumento que se baseava no romance policial de Robert Lublum. Várias vedetas de Hollywood fizeram audições para o filme, só mesmo pela oportunidade de trabalhar com o lendário realizador Sam Peckinpah. Rutger Hauer, John Hurt, Burt Lancaster e Dennis Hopper constam no elenco. O filme teve muito boas receitas comerciais mas foi menosprezado pelos críticos.
Foi a 28 de Dezembro de 1984 que Sam Peckinpah morreu de ataque cardíaco, deixando uma obra de culto. O seu cinema ou é amado ou é detestado. Foi um realizador de extremos lembrado pela sua cumplicidade com um grupo de actores e técnicos, a sua elite, os seus eleitos e pela sua genial desmesura.
Ana Catarina Velez
Subject: Bloody Sam- Os Filmes de Sam Peckinpah: Estudar a Violência para Perceber a Mente Humana
Sam Peckinpah foi um cineasta polémico conhecido pela sua descrição explícita e inovadora da violência, particularmente por a apresentar em cenas registadas em «camara lenta».
Nos seus filmes há constantemente um antagonismo entre os ideais e os valores individuais e a realidade decepcionante em que as personagens se encontram. A sua reputação de ser uma pessoa conflituosa alargava-se para os bastidores das filmagens, com episódios de impetuosidade verbal e física com actores, produtores e técnicos.
Nasceu em Fevereiro de 1925 na cidade de Fresno, na Califórnia, de uma família originária das ilhas Frísias na Europa. Morreu com 59 anos, no hospital devido a um ataque cardíaco, sofrido quando estava de férias com a família a 28 de Dezembro de 1984 em Inglewood, na Califórnia.
A sua infância foi passada em Fresno, na Califórnia, no rancho Denver Church do seu avô. Durante a década de 1930 e de 1940, passou a maior parte do seu tempo a faltar às aulas para se dedicar com o seu irmão a actividades de cowboy. Nessa altura, a área de Coarsegold e Bass Lake ainda era habitada por descendentes de mineiros e de cowboys do século XIX e muitos deles trabalhavam no rancho. É provável que a sua experiência na infância com esta população e esta zona rural em transformação o tenha influenciado nos Westerns que posteriormente realizou. Na escola tinha problemas disciplinares e os pais decidiram transferi-lo para a San Rafael Military Academy.
Em 1943, Peckinpah, alistou-se no Corpo de Fuzileiros dos Estados Unidos da América e, dois anos depois, partiu com o batalhão para China com a missão de desarmar e repatriar os soldados Japoneses que combateram na Segunda Guerra Mundial. Apesar de o seu trabalho não incluir combate, terá testemunhado actos de guerra e tortura entre os soldados Chineses e Japoneses. Durante as suas semanas finais nos Fuzileiros, em Beijing, quis abandonar o serviço militar para puder casar com uma mulher autóctone, mas o seu pedido foi recusado. As experiencias na China, nas quais se incluem ter sido atingido por um tiro, terão afectado e influenciado o modo como tratou a violência nos seus filmes.
Após a sua estadia na China, foi estudar História na California State University em Fresno. Nessa altura, Peckinpah conheceu em 1947 Marie Selland, a qual viria a ser a sua primeira mulher. Esta apresentou-o aos membros do departamento de teatro e ele pela primeira vez ficou interessado em encenar. No seu último ano de universidade, teve a oportunidade de dirigir e adaptar uma versão de uma hora da peça «The Glass Menagerie» de Tennessee Williams. Quando concluiu a sua graduação na California State University, foi, em 1948, estudar teatro na University of Southern California, na qual passou duas temporadas como director residente no Huntington Park Civic Theatre, perto de Los Angeles.
Em 1954, Peckinpah começou a trabalhar como treinador de dicção e diálogos e assistente de realização do filme «Riot in Cell Block 11», dirigido por Don Siegel. Colaborou com Siegel em mais quatro filmes: «Private Hell 36» de 1954, «An Annapolis Story» de 1955, «Invasion of the Body Snatchers» de 1956, no qual também apareceu num pequeno papel como actor e «Crime in the Streets» de 1956. O trabalho com Donald Siegel estabeleceu as condições para se tornar um argumentista emergente e um potencial realizador.
Durante a sua vida Peckinpah foi um alcoólico e, a certa altura, viciado no consumo de drogas. Terá tido também, segundo algumas fontes, distúrbios psíquicos, de diagnóstico pouco claro. O seu problema com a bebida começou quando ele ainda estava a prestar serviço militar na China. Após se ter divorciado em 1960 da sua primeira mulher, de quem teve um filho, em 1965 voltou a casar mas com uma actriz Mexicana chamada Begoña Palacios com quem teve uma filha. O seu segundo casamento foi tempestuoso. Peckinpah oscilava mentalmente entre períodos calmos e agitados nos últimos dos quais com agressões. Fascinado pelas armas de fogo, quando abusava do álcool em estado de delírio disparava contras os espelhos que tinha em casa. Nalguns filmes seus aparecem imagens de espelhos a ser quebrados. Ele e Begoña Palacios separaram-se e voltaram a reunir-se três vezes ao longo da vida tendo nascido da relação uma filha. Em 1971 Peckinpah casou-se com Joie Gould mas, no ano seguinte, 1972, voltou para Begoña Palacios, com quem ficou até morrer. Peckinpah passou grande parte da sua vida no México, principalmente depois de casar com Palacios, isto porque, para além de ela ser Mexicana, Peckinpah, ficou fascinado pelo estilo de vida e pela cultura deste país, realizando neste território quatro dos seus filmes: «Major Dundee» em 1965, «The Wild Bunch» em 1969, «Pat Garrett and Billy the Kid» em 1973 e «Bring Me the Head of Alfredo Garcia» em 1974. Apesar do seu temperamento explosivo, Peckinpah criou um grupo fiel de amigos e de colaboradores. Alguns actores como Warren Oates, L. Q. Jones, R. G. Armstrong, Ernest Borgnine, James Coburn, Ben Johnson ou Kris Kristofferson e colaboradores como Jerry Fielding, Lucien Ballard, Gordon Dawson e Martin Baum estão presentes nalguns dos seus filmes.
Os contrastes da sua personalidade polarizavam entre um comportamento simpático, artístico ou delicado a extremos de violência, capazes de o magoar e quem estava consigo.
Sam Peckinpah começou a sua carreira nos últimos anos de 1950, escrevendo argumentos e realizando episódios de séries de Western na televisão por recomendação de Don Siegel. Entre elas estavam episódios de «Gunsmoke», «Have Gun-Will Travel», «The Rifleman», «Broken Arrow» e «Klondike». Escreveu um episódio intitulado «The Town» para a série da CBS «Trackdown». O romance «The Authentic Death of Hendry Jones» foi por si adaptado originando em 1961 o filme «One-Eyed Jacks», realizado por Marlon Brando. Oficialmente, a primeira realização de Peckinpah foi um episódio de «Broken Arrow» em 1958 e, em 1960, vários episódios de «Klondike» e quatro de «The Rifleman». Durante este período, Peckinpah escreveu para uma outra serie de televisão, «The Westerner». Aceitou ser o produtor da série e dirigiu cinco dos episódios. Embora as críticas fossem boas, a série apenas durou 13 episódios, sendo suspensa a sua emissão devido à dureza dos conteúdos. Apesar de ter sido cancelada, Sam Peckinpah e a série recebeu nomeações para o prémio Producers Guild of America for Best Filmed series.
Brian Keith, o protagonista de «The Westerner», sugeriu Peckinpah como realizador do filme «The Deadly Companions». O produtor Charles B. Fitzsimons aceitou. De baixo orçamento, o filme, rodado no Arizona, foi um processo de aprendizagem para Peckinpah, pois estava incapacitado pelo produtor de alterar o guião ou fazer montagem. Peckinpah, jurou nunca mais dirigir um filme em que não tivesse o controlo do argumento. Este é o seu filme menos conhecido.
«Ride the High Country», de 1962, foi o segundo filme de Sam Peckinpah baseado no argumento para cinema «Guns in the Afternoon» de N. B. Stone, Jr. Peckinpah e William S. Roberts reescreveram o guião, nele se incluindo referências à infância do realizador no rancho de Denver Church e ainda a uma das cidades desse período, com o nome de Coarsegold. Inspirou-se para uma das personagens no seu próprio pai, David Peckinpah. A história é sobre dois amigos Gil Westrum (o actor Randolph Scott) e Steve Judd (o actor Joel McCrea) que são contratados para transportar ouro de uma comunidade mineira através de território perigoso. Um deles tenta convencer o outro a ficarem com o ouro.
Este filme foi um enorme sucesso na Europa, recebendo críticas muito elogiosas. Para alguns, este foi um dos melhores trabalhos de Peckinpah.
«Major Dundee», de 1965, foi a primeira de várias más experiências com os estúdios que financiavam os filmes. Peckinpah foi escolhido para realizador, quando Charlton Heston, o protagonista, após ver em privado «Ride the High Country» com o produtor, lhe deu a sua aprovação. O filme conta a história de um oficial da cavalaria da União, o Major Dundee, comandante de um posto de prisioneiros confederados no Novo México. Um chefe Apache ataca e destroça uma companhia militar e rapta várias crianças. Para as resgatar, Dundee organiza um exército improvisado que incluía um ladrão de cavalos, veteranos confederados e um pequeno grupo de soldados negros que tinham sido libertados da escravatura. Dundee fica obcecado com a sua missão e avança pelo México profundo com os seus soldados exaustos e sem preparação militar. Para Peckinpah, este foi o seu primeiro filme com um grande orçamento e com um elenco de grandes estrelas, possibilitando a escolha de várias localizações remotas no México para filmar. Porém, os gastos subiram e ultrapassaram o orçamentado. Intimidado com grandiosidade do projecto, Peckinpah, após cada dia de filmagens embebedava-se. Despediu pelo menos quinze membros da sua equipa. A relação com os actores e a equipa técnica atingiu um ponto de ruptura até Heston ameaçar atingir Peckinpah com um sabre se ele não mostrasse mais respeito pelas pessoas presentes. Quinze dias depois, as filmagens terminaram com mais um milhão e meio de dólares gastos acima do previsto. Heston ainda deu o seu salário para manter o projecto mas a instabilidade de Peckinpah obrigou a cancelar toda a produção. Sem estar concluído e sem respeitar a vontade de Peckinpah, «Major Dundee» foi levado pelo produtor e montado em várias versões. Foi um fracasso de bilheteira e um fracasso como filme. Durante toda a sua vida Peckinpah sustentou que, na sua versão, este era um dos seus melhores filmes. No entanto, com estes incidentes, a sua reputação foi abalada.
O seu próximo trabalho seria o filme «The Cincinnati Kid», sobre um jovem prodígio com o vício do jogo e que derrotou um velho mestre durante um jogo de póquer. Antes de começarem as rodagens, o produtor recebeu inúmeras chamadas a falarem sobre o que aconteceu durante as gravações de «Major Dundee». Após quatro dias de filmagens, o produtor não gostou do seu trabalho e despediu-o.
Em 1966, Daniel Melnick, produtor e admirador de «The Westerner» e de «Ride the High Country», estava a precisar de um realizador e argumentista para adaptar o romance «Noon Wine» de Katherine Anne Porter para a televisão. Soube que Peckinpah tinha acabado de ser injustamente despedido do filme «The Cincinnati Kid». Apesar de alguns avisos das personalidades da indústria, decidiu contratá-lo e dar-lhe liberdade. «Noon Wine» é uma tragédia acerca de um agricultor que comete um homicídio fútil. Este filme fez com que Sam Peckinpah fosse nomeado pela Writers Guild for Best Television Adaptation e pela The Directors Guild of America for Best Television Direction. O filme é considerado um dos trabalhos mais intimistas de Peckinpah e revela o seu potencial dramático e profundidade artística.
Tendo com fundo a vontade de voltar a fazer filmes, a violência vista no filme «Bonnie and Clyde», realizado por Arthur Penn, em 1967 e a frustração da América com a Guerra do Vietname, Peckinpah ganhou inspiração para reescrever com Walon Green um argumento que se tornaria no aclamado filme «The Wild Bunch». Monumento épico, este filme fez escola especialmente pela sua montagem e pelo modo como a violência é filmada, por vezes em slow motion, narrando a deriva de uma quadrilha de bandidos experientes após um sangrento assalto falhado. Estes tentam sobreviver de acordo com o seu modo de vida independente e errático num mundo em transformação, no qual já não há lugar para eles. Pike Bishop (o actor William Holden), o chefe desses homens é perseguido pelo seu melhor amigo e antigo membro do grupo, Deke Thornton (o actor Robert Ryan), agora do lado da lei. Em fuga, o bando de Bishop chega ao México durante a Guerra Civil e encontra o corrupto e brutal general Mapache (o actor Emilio Fernández) do exército federal a quem inicialmente decidem oferecer os seus serviços.
O American Film Institute colocou esta obra no lugar 80 entre os cem melhores filmes Americanos e a revista Britânica Empire no lugar 94 dos 500 melhores filmes de sempre. Considerado um filme controverso por causa das suas imagens arrebatadoras de violência e da forma cruel e pouco escrupulosa como as personagens tentam sobreviver, foi um enorme sucesso assim que estreou em 1969. Considerado por muitos como excessivo ou até sádico é, também para muitos, uma obra-prima. Com este inovador filme recebeu a sua única nomeação para o Academy Award for the Best Original Screenplay.
«The Ballad of Cable Hogue», de 1970, foi o filme que Peckinpah fez a seguir a «The Wild Bunch». Contrariando as expectativas, é um filme divertido e sem a estatura épica da obra anterior. Peckinpah utilizou praticamente os mesmos actores e membros de equipa de «The Wild Bunch». O filme relata três anos da vida de um homem, um prospector sem sorte, que decide viver no deserto e nele estabelecer um posto na rota da diligência a que chama Cable Springs, após ter descoberto água naquele lugar, quando foi abandonado pelos companheiros para uma morte certa. O tempo de filmagens ultrapassou por 19 dias o que estava planeado e superou em 3 milhões de dólares o orçamento previsto. Para Peckinpah, este é um dos seus filmes favoritos.
Em «Straw Dogs», de 1971, Peckinpah teve de viajar até Inglaterra para poder dirigir um dos seus trabalhos mais obscuros e psicologicamente perturbadores. Foi produzido por Daniel Melnick, que trabalhou anteriormente com ele em «Noon Wine» e baseado no livro «The Siege of Trencher’s Farm» de Gordon Williams. O argumento de Packinpah recebeu inspiração de duas outras obras «African Genesis» e «The Territorial Imperative» de Robert Ardrey, os quais sustentam, em síntese, que o homem é um ser essencialmente carnívoro que instintivamente combate pelo controlo do território. O filme versa sobre David Sumnerum (o actor Dustin Hoffman), um tímido matemático americano que deixa o caos dos protestos universitários contra a guerra para ir viver com a sua jovem esposa Amy (a actriz Susan George) na aldeia onde ela nasceu, na Cornualha. Nessa aldeia, o ex-namorado de Amy não se conformou com a escolha que ela fez. Ele e os seus companheiros não simpatizam com a presença do estrangeiro. Surgem tensões, e estas intensificam-se até uma explosão conflitual. O matemático é forçado a defender a sua própria casa. A trama culmina num massacre.
As críticas a esta película extremaram-se novamente. Para uns era um filme belo que expunha a selvajaria humana, para outros era misógino e celebrava de um modo fascista a violência. A cena que mais reprovação teve foi aquela em que Amy é violada por dois dos habitantes locais. Peckinpah tentou associá-la aos seus próprios medos enraizados nos casamentos falhados. Muitas opiniões identificam essa cena com uma fantasia machista e chauvinista que inferiorizava a mulher. Outras sustentavam que este era um dos seus melhores filmes.
Foi também em Inglaterra que Peckinpah conheceu Josie Gould e casou com ela, mas pouco tempo depois divorciaram-se devido às suas frequentes mudanças de humor e acessos de agressividade.
Depois de concluir «Straw Dogs», regressou aos Estados Unidos para começar outro filme intitulado «Junior Bonner». Com a fama de ser um realizador de filmes violentos, Peckinpah aceitou o projecto por se situar entre «Noon Wine» e «The Ballad of Cable Hogue». O filme conta uma semana na vida do cavaleiro de rodeo Junior “JR” Bonner (o actor Steve McQueen), que regressa à sua cidade natal para entrar numa competição anual de rodeo. Filmado no Arizona, Peckinpah referiu que fez um filme «em que ninguém foi alvejado nem ninguém o foi ver».
Foi Steve McQueen que, ansiando voltar a trabalhar com Peckinpah, lhe apresentou um argumento de Walter Hill «The Getaway», baseado no romance de Jim Thompson. Peckinpah tinha o objectivo de fazer deste filme um thriller de qualidade, para aumentar a sua cotação no mercado. Um assaltante condenado conhece um homem de negócios corrupto que o ajuda a sair da prisão. Mais tarde ambos assaltam um banco. Este filme cheio de explosões, tiroteios e perseguições de carros, foi o maior sucesso financeiro de Peckinpah até então.
«Pat Garrett and Billy the Kid» é baseado num argumento de Rudolph Wurlitzer, autor de «Two-Lane Blacktop», realizado por Monte Hellman em 1971 que Peckinpah viu e admirou. O realizador achou que com este filme poderia afirmar a sua marca no género Western. Peckinpah reescreveu o argumento e conseguiu explorar temas que lhe interessavam. O filme, rodado no México, teve diversos contratempos, como uma epidemia de tuberculose, câmaras avariadas ou a funcionar mal e os recorrentes problemas de álcool de Peckinpah. Este foi um dos projectos com mais embaraços da sua carreira, com gastos de 1 milhão e 600 mil dólares acima do previsto. Foi considerado um filme incoerente e, por iniciativa de James Aubrey presidente da Metro-Goldwyn-Mayer, a sua duração foi reduzida de 124 para 106 minutos, contrariando a vontade de Peckinpah. Mais tarde o filme foi lançado na íntegra e foi reavaliado, com muitos críticos a considerá-lo um clássico moderno e um dos grandes filmes deste realizador. Pat Garrett (o actor James Coburn), que havia sido companheiro do bandido Billy the Kid (o actor Kris Kristofferson), passou para o outro lado da lei e é agora xerife do condado de Lincoln. Defende os interesses do Governador Lew Wallace (o actor Jason Robards) e dos ganadeiros do território em que o seu antigo companheiro continua a agir de um modo criminoso. Neste filme Bob Dylan aparece num papel secundário e é o autor da banda sonora. O filme foi um desastre financeiro.
Segundo Peckinpah, o filme «Bring Me The Head of Alfredo Garcia», de 1974 foi o único que se estreou exactamente como ele pretendia. Foi escrito pelo próprio mas a partir de uma ideia de Frank Kowalski, seu assistente, juntamente com Walter Kelley e Gordon Dawson. El Jefe (o actor Emilio Fernández) descobre que a sua filha adolescente ficou grávida de um estranho. Sob tortura ela confessa a identidade do pai. El Jefe oferece 1 milhão de dólares para quem lhe trouxer a cabeça de Alfredo Garcia. Quase como uma cópia do próprio Peckinpah, a personagem principal, Bennie (o actor Warren Oates), conhecia Alfredo Garcia e procura o seu paradeiro para receber o dinheiro. Considerado um drama macabro, com comédia, acção e tragédia, grande parte das críticas são negativas. Para além de ter sido um fracasso de bilheteira, até foi incluído na lista do livro «The Fifty Worst Films of All Time (And How They Got That Way)» de Harry Medved e Randy Dreyfuss. Mas recentemente a reputação do filme tem vindo a aumentar, tornando-se um filme reverenciado por muitos cinéfilos.
Após sucessivos desaires nas receitas da maior parte dos seus filmes, Peckinpah precisava de atingir novamente o êxito de bilheteira do seu filme «The Getaway». Apostou em «The Killer Elite», um filme de acção e espionagem com James Caan e Robert Duvall como agentes rivais, filmado em São Francisco. Mas, durante a rodagem, Peckinpah começou a consumir cocaína, graças a James Caan, causando-lhe distúrbios e pouca concentração no projecto que tinha em mãos. Os produtores não lhe deixaram reescrever o guião. Frustrado, Peckinpah começou a consumir mais e a passar mais tempo no seu reboque, permitindo que os seus assistentes dirigissem muitas cenas. A certa altura Sam Peckinpah teve uma overdose de cocaína e acabou no hospital, onde recebeu o seu segundo pacemaker. Felizmente o filme foi concluído e teve um moderado sucesso de bilheteira, mas tem sido considerada a sua obra mais fraca, um testemunho de decadência de um grande realizador
Foi nesse mesmo ano que lhe ofereceram projectos como «King Kong» e «Superman». Recusou-os, preferindo fazer um filme passado na Segunda Guerra Mundial intitulado «Cross of Iron», estreado em 1977, com James Coburn, Maximilian Schell, James Mason e David Warner. Adaptado de um romance sobre soldados alemães, reescrito por Peckinpah, o orçamento do filme era baixo e a os fundos disponíveis foram rapidamente ultrapassados. O álcool e a cocaína tornaram a realização confusa e errática. Sem dinheiro, a conclusão do filme teve de ser improvisada num só dia. O filme, memorável pelas viscerais cenas de combate e por mostrar o absurdo da guerra, foi um grande sucesso na Europa e é, para muitos uma obra-prima esquecida do cinema de guerra.
«Convoy» foi o seu penúltimo filme, baseado numa música com o mesmo nome de C. W. McCall. Apesar do consumo constante de cocaína e de álcool, Peckinpah conseguiu fazer deste filme o seu maior sucesso de bilheteira. Como não podia deixar de ser, durante a sua realização houve problemas, em particular com a sua saúde. Filmado no Novo México, com Kris Kristofferson, Ali MacGraw, Ernest Borgnine, Franklyn Ajaye e Burt Young, o enredo centra-se numa perseguição entre polícias e um camionista. As opiniões críticas foram divergentes. Umas arrasaram o filme, outras elogiaram-no.
Peckinpah aceitou realizar «The Osterman Weekend» de 1983, mas rapidamente começou a odiar o argumento que se baseava no romance policial de Robert Lublum. Várias vedetas de Hollywood fizeram audições para o filme, só mesmo pela oportunidade de trabalhar com o lendário realizador Sam Peckinpah. Rutger Hauer, John Hurt, Burt Lancaster e Dennis Hopper constam no elenco. O filme teve muito boas receitas comerciais mas foi menosprezado pelos críticos.
Foi a 28 de Dezembro de 1984 que Sam Peckinpah morreu de ataque cardíaco, deixando uma obra de culto. O seu cinema ou é amado ou é detestado. Foi um realizador de extremos lembrado pela sua cumplicidade com um grupo de actores e técnicos, a sua elite, os seus eleitos e pela sua genial desmesura.
Ana Catarina Velez